Preâmbulos sobre a Neuro-Humanidades.
Neuro-Humanidades
corresponde a uma interface do Neuroconhecimento com as Ciências Humanas. Neste
âmbito, consideramos que não há evento ou processo humano que seja “a-histórico”
e nem “a-psicológico”. A dimensão histórica, social, coletiva e a dimensão
psicológica estão sempre presentes, inclusive no campo científico. Também não
temos a última palavra sobre qualquer coisa, nem todas as respostas. Enfocamos mais
os vínculos e os processos entre as coisas do que as próprias coisas. A linguagem
tem um papel fundamental no Conhecimento e a metáfora tem um papel importante na
construção do Conhecimento.
Temática “Narrativa,
Saúde e Doença”.
Neste item lembramos
que no ano 2000 a Dra. Rita Charon criou oficialmente a Medicina Narrativa,
embora várias iniciativas sobre narrativa já ocorressem no mundo.
Para entender
melhor o binômio saúde-doença podemos lembrar a origem do ser humano em sentido
amplo, de modo que três fatores se interrelacionam: ser humano, cultura e
linguagem. No momento em que começou a existir “ser humano”, conjuntamente
também surgiram “cultura” e “linguagem”, significando que o ser humano já surge
coletivo e não só individualmente. A coletividade é atravessada pelas
individualidades e as individualidades são atravessadas pela coletividade. É
nesse processo que vão surgir as noções mais remotas de saúde e doença.
Desde sempre o ser
humano desenvolveu narrativas sobre si, sobre os outros, sobre o mundo e sobre
esses diferentes fatores correlacionados. Há quem diga que “a narrativa”
desenvolveu a humanidade em um sentido para além do biológico. A narrativa
teria “construído o tempo” para o ser humano e sua situação no espaço.
Narrativa, tempo,
espaço do ser humano construíram-se a partir da memória e, por sua vez, também construíram
a memória e a memória coletiva no sentido cultural.
Exercícios de narrativa
podem educar a mente racional e emocional para o cuidado à Saúde. Vaillant
chamou de emoções positivas: compaixão, perdão, amor, esperança, alegria, fé/confiança,
reverência, gratidão. Essas emoções podem ser trabalhadas pelo trabalho com narrativa.
Fazem parte de uma capacidade parental inata nos mamíferos do amor parental
desinteressado. A cria dos mamíferos, principalmente dos seres humanos, é totalmente
dependente dessa capacidade. O cérebro mamífero é “límbico e sensível”.
Foi falado sobre a
diferença entre “história” e “estória” (esta forma não pode mais ser formalmente
usada) semelhante a “history” e “story” em inglês. Isso pode ajudar a ressalvar
a diferença que existe entre “história clínica” e as “estórias” da vida do
paciente. A Medicina Narrativa surgiu da atenção às “estórias” dos pacientes, a
qual vai além da “história clínica” mais tradicional.
Na temática “disciplinaridades”.
A Medicina
Narrativa é intrinsecamente “interdisciplinar”.
Lembramos que uma
atividade “multiprofissional” pode ser “multidisciplinar” ou “interdisciplinar”.
Foi exposta a conceituação
e diferença entre multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade. Essa conceituação voltará a ser abordada na aula 2.