O Grupo de Estudos em Medicina Narrativa - GEMNA - foi criado no fim de 2017, a partir do interesse de diversos profissionais da Saúde e das Ciências Humanas em estudar esse novo campo intitulado "Medicina Narrativa". Embora haja a palavra "medicina", isso não implica em que participem apenas profissionais dessa área especificamente, mas, pelas próprias características desse campo, quaisquer interessados podem participar de estudos em Medicina Narrativa. Por certas peculiaridades, é evidente que o interesse maior seja de profissionais da Saúde e das Ciências Humanas.
A Medicina Narrativa foi criada, com esse nome, no ano 2000, pela Profa. Dra. Rita Charon da Universidade de Columbia em Nova York. A Dra. Charon é professora de Clínica Geral e fez Doutorado em Literatura Inglesa. Antes dela criar essa área já existiam algumas iniciativas similares nos cursos de medicina dos Estados Unidos, como, por exemplo, a área "Medicina e Literatura". Mas, a criação da área e do termo "Medicina Narrativa" passou a dar especial destaque para a correlação entre a verbalidade, as linguagens e a literatura e o campo da saúde.
No dizer da Dra. Charon Medicina Narrativa é "a Medicina praticada com 'competência narrativa' para reconhecer, absorver, interpretar e ser tocado pelas histórias (e estórias) de doenças (e de doentes). Na nossa tradução, acrescentamos "e estórias" e acrescentamos "e de doentes", porque a tradução literal pode deixar de expressar o significado mais profundo do texto original.
Nas últimas décadas, em português não temos mais a palavra "estória", mas apenas "história" para se referir tanto ao sentido de "história como área de estudo, ou ainda como um relato cronológico de uma sequência de fatos", bem como "história como nome de relatos fictícios ou reais que têm certa dinâmica de começo, meio e fim". Em inglês existe o termo "history" para a História como área de estudo, ou como, por exemplo a "história clínica" e existe o termo "story" para se referir a uma narrativa fictícia ou real, que tenha 'começo, meio e fim'. Na conceituação de Medicina Narrativa em inglês o termo referido é "story", similar ao nosso antigo "estória".
Outro termo é "doenças" na frase "e ser tocado pelas histórias (e estórias) de doenças". Em um primeiro momento pode causar perplexidade essa conceituação, na medida em que procuramos ensinar que "não existem doenças, existem doentes". Mas, se nos ativermos ao sentido original do termo vemos que a palavra "ilness", em inglês, não se refere necessariamente a "doença", cujo melhor termo seria "disease", mas se refere mais ao "adoecer" do paciente, ou seja, a como o doente vivencia sua própria doença. Desse modo, a ideia de "não existem doenças, existem doentes" se mantém, na medida em que "o adoecer" se remete ao doente propriamente dito e suas características como pessoa em seu todo.
A Dra. Charon considera como importantes ferramentas para esse estudo a Literatura e a Narratologia, bem como estudos da relação médico-paciente ou ainda profissional-paciente, além das outras áreas de Ciências Humanas e Ciências da Saúde.
O Grupo de Estudos em Medicina Narrativa - GEMNA - pretende desenvolver atividades teóricas, teórico-práticas e práticas relacionadas com esse campo, através de aulas, discussões, debates, palestras, contato com pacientes e acompanhantes, seja por meio de seus colaboradores, bem como com a participação de estudantes universitários de variados cursos.